[RP Entrada] In beatitudinem capessendam

— Não vou voltar. – Gritou a maga para o seu tio parado na praça. Eles estavam em uma distancia segura, que no caso ela poderia usar para correr caso fosse preciso. Porém no fundo ela sabia que se ele quisesse realmente levá-la de volta para a casa, só precisaria estender seus braços de sombras e tudo estaria perdido. — Ele não entende. – Escorreu uma lágrima salgada do seu rosto. Nem ela mesma sabia o que estava acontecendo. Aquilo que era chorar? — Não é quem eu sou! – Virou as costas e correu ladeira acima. Não sabia exatamente aonde chegaria, apenas o que estava procurando.

As revistas e jornais diziam que aquela era a cidade que se encontrava a Mermaid Heel, uma guilda que abrigava magas em processo de descoberta. E não era aquele o seu caso? Por mais que a sua aparência fosse bela, ela estava destruída por dentro. Ninguém sabe o quanto um coração está despedaçado até morar dentro dele. E o pior, ela nem sabia se tinha coração. Olhou para trás vendo o seu tio relutando consigo mesmo entre deixá-la seguir o seu caminho ou intervir. Por fim, ele cerrou os punhos e sumiu por entre a multidão. Com a sensação de ter vencido sua primeira batalha olhou a sua frente. Estava prestes a ser cercada pela natureza em sua forma mais pura e bela. Floresta nunca a assustou antes, afinal a sua magia lidava com plantas, mas aquela era diferente. Quando as árvores e flores passassem, Allihanna estaria de frente para o seu novo destino.

Wanda
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— Como se eu fosse voltar assim. – Dizia a maga consigo mesma feito uma idosa em processo de caduquice. Na verdade ela já estava cansada de andar, as pernas começavam a apresentar sinais de falha. A única coisa que a dava forças era o fator de ter um pressentimento que estava no caminho certo. Mesmo esperançosa, não conseguiu deixar de sentir um alívio enorme ao ouvir vozes femininas. Ao longe parecia uma competição de frases, ao se aproximar observou que eram apenas conversas. Entre ânimos e gritos eufóricos, várias meninas, moças e mulheres conversavam entre si, trazendo a impressão de uma enorme platéia em um show de opera.
 
Seus passos foram interrompidos por alguém que entrelaçou em sua frente, fazendo-a parar praticamente em cima. Allihanna focou sua visão no novo rosto, guardando para si os detalhes daquela fisionomia. A mulher de cabelos quentes e olhares profundos e sérios, indagou a jovem o motivo de sua presença. Allanys não era boa em comunicação humana, entretanto resolveu ao menos tentar.
 
— Aqui é a base da Mermaid Heel? – Continuou focando o olhar, rosto inexpressivo. — Vim me juntar as magas da guilda feminina. – Findou. Ela não sabia se passaria por algum teste ou se tudo não passaria de um questionário. Na pequena dark guilda de sua família era preciso somente mostrar o quanto você havia matado. Se tivesse que mostrar algum ato benéfico estaria perdida. Jamais salvou ninguém em sua vida. — É aqui? – Continuou séria.         

Wanda
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Crianças
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Allihanna soltou o ar que nem ao menos percebeu que estava prendendo. Se certificou em mentalizar que o questionamento parecia ser iguais em todas as guildas.

— Sou uma maga estilo planta. – Respondeu. Sua mente trabalhava a mil por hora tentando separar o que poderia ou não ser dito. Ela não gostaria de passar insegurança, embora a própria não sentia aquilo. Qualquer palavra em falso poderia colocá-la como inimiga e ocasionalmente um ataque. Era o seu primeiro teste, falar por si mesma sem esperar terceiros. — Eu sou daqui mesmo de Fiore. – Respondeu verdadeiramente. Resolveu que excluiria a sua real raça, não devia explicações a ninguém, somente a mestre da guilda se a mesma perguntasse. Levando em consideração a recepção da maga de cabelos vermelhos, era não era a regente da Mermaid. Nenhuma pessoa realmente muito importante ficaria a mercê daquela algazarra que estava prestes de chegar ao seu ápice. — Minha família não mora nessa cidade e nem tampouco nos damos muito bem. – Aquilo era o suficiente que poderia dizer sobre eles.

Sua atenção voltou-se ao grupo de crianças que agora pareciam se estranhar, causando uma tensão de uma possível briga. Allihanna se manteria atenta para não ser pega desprevenida. Aliás, ela nunca conseguiu entender a capacidade constante humana de criar confusões e desavenças. A maior parte dos seres humanos se comportavam como animais irracionais, sempre territoriais e usando a força ao invés da razão. — Deixei minha família para me juntar a guilda. Pretendo trabalhar e cooperar para o seu crescimento, além claro do meu próprio. Até o momento atual jamais precisei responder qualquer pergunta por mim mesma, e até ontem não havia tomado uma decisão por conta própria. – Ela mesma percebeu que sua vida estava se tornando um turbilhão de decisões inéditas. — Algo mais específico?

Embora tivesse perguntando, metade do seu foco estava direcionada as meninas. Raciocinava quais caminhos seguros seguir caso fosse envolvida naquela disputa.      

Wanda
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Crianças
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Era um alivio saber que a maga questionadora não se interessou tanto pelos detalhes, engoliu ou fingiu acreditar na história encurtada de Allihanna. Ela não havia sido desonesta, simplesmente omitiu partes importantes que a pudesse parecer má aos olhos alheios. 

Por outro lado, as crianças ainda cismavam em discutir. Era comum naquela idade ter comportamentos tão irritantes, fazia parte do processo de madurecimento humano. A maga das plantas não se sentia nem um pouco interessada em entreter, geralmente encarava aquilo como algo relacionado a humilhação. Na base da guilda de seu pai qualquer mago que tivesse falhado em sua missão era convidado a ir ao centro enquanto outros riam de sua cara envergonhada. Lembrou-se que seu tio chamava aquilo de ser o “bobo da corte”. Fitou a maga novamente, ela tentava acalmar as crianças para que Allihanna pudesse fazer algo. Talvez fosse indiretamente um treino de sua magia, uma prova de mostrar que era uma praticante de magia. 

— Prestem a atenção. – Disse por fim virando-se para os dois infantis presentes. Abriu a palma das mãos e conectando-se ao seu poder interno, convocou sua magia. No centro de suas palmas nasceram duas rosas vermelhas pequenas. O cheiro das plantas invocadas invadia somente o lugar próximo onde elas estavam; um odor de terra mesclado com o cheiro do orvalho pela manhã. Entregou uma rosa para cada criança ali. Não demonstrava emoção no rosto. — Não briguem mais. Ouvi alguém dizer que crianças que brigam muito não ganham presentes e a terra se abre e engole. – Afastou-se voltando para o membro da guilda. — A propósito, me chamo Allihanna.   

Wanda
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Crianças
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Era a primeira vez que a maga era chamada de bondosa. Do lugar onde ela havia vindo um elogio como aquele poderia ser tomado como ofensa. Sentiu o seu rosto esticando a pele até formar um sorriso nos seus lábios, a primeira vez que ela realmente fazia aquilo apenas por vontade própria. Allihanna aprendeu que gostava de ser boa, embora destruir era bem mais fácil que consertar. — Eu nunca precisei lidar com crianças antes. – Olhou para os dois pivetes que a observavam. Fitou a maga a sua frente. — O lugar?

Para muitos magos poderia ser fácil escolher uma parte do corpo para receber a marca da guilda, mas não para Allihanna. Ela havia descoberto que a marca representava quem você era no mundo, que em ambientes hostis uma tatuagem sigilosa cooperava para a espionagem e a barganha. Ela repensou por algum tempo chegando a conclusão que a coxa esquerda seria o local perfeito. — Me decidi! Coxa Esquerda. – E assim suspendeu a saia longa. Enquanto a tatuagem não vinha, fechou os olhos esperando não sentir nenhuma dor.