Ela preferiu sentir dores nos pulsos do que no coração {RP FECHADA}

As lágrimas foram secando com o passar do tempo, mas de vez em quando elas volta, e quando isso acontece eu percebo que nada mudou muito - ainda sou aquela garotinha deitada na cama a noite olhando para o vazio.

Fechei os olhos. Coloquei as mãos no rosto e pressionei as pálpebras com os dedos e vi padrões surgirem no puro cinza invisível. Fascinantes momentos que havia ocorrido em minha vida, de atos obscenos a pessoas dos quais tenho guardado no coração. Voltei meus pensamentos para o dia atual, lá estava eu acreditando que minha vida poderia mudar de uma hora ou outra, só não achava que seria tão rápido assim.


- São quase onze horas. Disse eu, correndo em direção a porta de saída da Guilda, um sentimento de magoa surgiu em meu coração, algo extremamente ruim, simplesmente passei pelos arredores. Só conseguia correr e correr; passei por algumas pessoas, muitas delas cochichavam coisas que no fundo eu tentava ignorar, mas por um bom tempo fiquei com aquilo na cabeça, o fato de todos falarem algo contra mim, essa dor que sentia no meu peito só piorava. E quando cheguei ao início da floresta não havia ninguém. E quando percebi; comecei a tentar cortar uma árvore, sem explicação, somente tentei. Quando percebi que isso não iria aliviar a minha raiva, olhei para o meu pulso…


Não acho isso bonito nem nada, mas é uma coisa que quando penso em fazer me sinto tão aliviada, parece que se eu fizer isso o peso que tem nas minhas costas poderia sumir do nada. Mas depois olhei pro mesmo local e comecei a fazer pequenos cortes. Isso acaba comigo, o que me leva a me cortar novamente... No começo eu sentia dor sabe, mas agora, nossa, não sinto nada, às vezes até acho que não faz mais o efeito que fazia antes, mas continuo do mesmo jeito, porque é a única maneira que encontro de me sentir livre... Sempre que faço isso, é por raiva, medo, rejeição, quando me sinto inútil. Culpada por não conseguir ser capaz de suportar a dor e ter que transferir isso para a minha pele, não é a primeira vez, não é a segunda, muito menos a terceira vez, o meu passado, presente e futuro, é esse, meu segredo revelado a quem chegasse ali. A garota permanecia de costas, de joelhos, seus braços jogados para ao lado e sua expressão de dor, mas ao mesmo tempo de alívio.

Eu estava, tenho certeza que foi o que ele pensou, quando me viu. Olhei em direção ao Ferumbras, que me encarava. Era mesmo real? Ele estava ali? Já estava morta, mas não havia sentido nenhuma dor inexplicável. Dava para ver através dos olhos dele, de tão magníficos.   - O que aconteceu? Repeti a fala dele, enquanto meus braços eram aprendidos de uma forma que me impedia de sangrar mais.   - Vai chegar um dia - eu disse -   em que todos vamos estar mortos. Gemi um pouco e apalpei o pano sobre o meu pulso, havia sentido um choque devido a perda de sangue, revirei os meus olhos e comecei a chorar.   - Só quero ir o mais rápido possível. Minhas palavras saíram como se fosse um pedido de socorro, mas não havia verdade o bastante nas palavras para que o outro acredite realmente nisso, minha boca soltava frases soltas que para muitos faz sentido, menos para mim, meus olhos brilharam de uma forma que demonstrou, eu só preciso de amor.

Não vai sobrar ninguém para se lembrar de nós, pode ser que esse dia chegue logo e pode ser que demore milhares de anos, mas, mesmo que  o mundo sobreviva a um explosão do Sol, não vamos viver para sempre. Houve um bom tempo antes do surgimento dos magos uma consciência do bem e do mal, organismos vivos, e coisas que nem se preocupavam com a sua existência, os humanos vieram, se preocupam com você, um ato do qual pouco conhecia.Nesse meio tempo, fiquei inconsciente.

Meus olhos se abriram novamente e eu pude sentir o cheiro de Ferumbras, foi isso que me despertou, foi isso que me fez voltar para esse mundo.   - Eu mesma fiz isso comigo, sempre faço… Revelei, enquanto dos meus olhos saíram lágrimas e um choro incontrolável atingiu o meu corpo, só pude soluçar.   - Sou uma idiota, burra, não faço nada direito! Gritei a plenos pulmões, meu rosto completamente vermelho devido ao temperamento irregular e simplesmente ergui minha mão até o rosto de Ferumbras.   - Só me deixe aqui, Ferumbras. Você não deveria nem estar aqui, POR QUE VOCÊ ESTÁ AQUI?  Gritei muito mais alto, empurrei o corpo dele com toda a força que eu tinha, me arrastei no chão e tentei retirar o pano dos meus braços, mas estavam tão bem amarrados que falhei ao tentar. Me afastei ainda mais, me levantei, cambaleando e novamente caindo no chão.   - AHHHH INFERNOOOO. Berrei bem mais alto, soquei o chão e o pano começou a molhar, muito mais sangue saia do local. Mas, mesmo assim, eu me preocupava. Gostava de ser uma pessoa. E queria continuar sendo. A preocupação também é outro efeito colateral de se estar morrendo. Um pensamento voou pela minha mente, algo relacionado a terminar por ali, se jogar de um penhasco e terminar a vida que restava em meu corpo. Tentei ao máximo afastar esse pensamento. Eu tinha uma decisão de continuar ali ou de correr, se algo estivesse errado,  eu saberia logo. Não adianta nada começar a me preocupar naquela hora.

Sorri sem graça, baixando o olhar, pela primeira vez no dia.  Não estava com pique pra sentimentos. Não ainda. Olhei por cima do ombro do garoto, vendo um animal passar por entre as árvores, metros e mais metros atrás de nós. Senti meu coração apertar cada vez mais, as palavras dele me fizeram repensar os meus atos. Eu o encarei, levemente confusa, enquanto ele abaixava a cabeça e levava a mão fria dele até a minha, a pegando. -  Mas porque? Eu e você só tivemos um encontro.

Eu estava no escuro. Tudo o que podia ouvir eram as respirações pesadas das pessoas à nossa volta, sendo mais específica, da minha vida. Não sabia o que nos observava enquanto estávamos momentaneamente cegos, e acho que a maioria de nós não queria nem imaginar. Pessoas sussurrando, sussurrando envolviam-me em uma loucura interminável. Arrepio subiu pelos meus braços, chamando por mim, pedindo que fossemos até o inocente cômodo escuro no fim da minha mente. Por que não? Aquela voz demoníaca me parecia muito confiável. Mas a voz de Ferumbras me fez voltar a mim mesma, meus olhos se abriram. Não tinha como dar errado, pois sabe quando você abraça alguém e e sente como se estivesse com a pessoa certa? Sabe quando você olha no fundo dos olhos de uma pessoa e imagina o seu futuro com aquele olhar sempre ao seu lado… Mas para se entregar de corpo e alma você precisa literalmente refletir, porque ter a certeza de que não vai quebrar a cara é totalmente difícil de se adivinhar. Eu tinha essa certeza de que iria.

- O que você espera de um futuro, assim…   Olhou para os próprios braços. - O que resta a ver nesse mundo?  Eu disse, extremamente irritada, o empurrei novamente, eu já não estava aguentando mais, não havia motivos para ficar nesse mundo, apesar de que até mesmo antes, não havia pensado em meu pai, principalmente no que ele diria se eu me matasse. Estava prestes a perder a voz chamando-o. Comecei a chorar, sem motivo, talvez haja um motivo nesse momento, mas foi do nada, apenas encostei o meu rosto no peitoral dele e o soquei algumas vezes. - Droga! Ahn! Solucei um pouco mais, continuei a apertar fortemente a pele dele, não sendo o suficiente para machucar, mas sim para causar dor. - Eu preciso de você aqui... Era como se ele pudesse ouvir um grito de apelo de uma alma, como se estivesse pedindo socorro, continuou a frase.- Por que eu tenho temido. Eu me esforcei tanto que não aguento.Todos os meus sonhos viraram cinzas.. Respirei profundamente e olhei novamente em seus olhos, entrelacei os seus dedos e tentei mudar a minha feição de garota desesperada para uma garota fofa. Um brilho de compreensão apareceu nos olhos dele. Talvez tivesse se esquecido da minha situação. Até eu havia me esquecido! Respirei fundo. Ok, tudo bem. Talvez desse certo, talvez não, mas eu morreria de qualquer jeito, cedo ou tarde, a única diferença é que vou estar ao lado da pessoa que amo.

- O que? Por mais que eu não quisesse falar de amor, por mais que meus pensamentos estivessem negando esse sentimento, meu corpo não suporta mais renegá-lo, ainda assim, parte de mim pensou que Ferumbras ao menos soubesse quem eu era realmente… - Tumtum, tum tum. Acabei emitindo uma pequena réplica do som que o seu coração explanava de seu corpo, a partir desse momento eu fiquei a tocar um pouco o seu peitoral, pude sentir o calor de sua pele. A temperatura poderia facilmente aquecer meu coração… Corri os olhos pela área da floresta para observar cada detalhe do local, mas ninguém estava prestando atenção naquela cena, até porque nenhuma alma viva além da nossa estava ali. - Você… Me ama?  

É engraçado como o mundo se revela para nós; o ser humano pode ser tão sensível e ao mesmo tempo tão assustador. - Não, isso não é verdade… Como ousa mentir assim? Mal nos vimos, me recuso a acreditar que isso o que sinto é amor! De qualquer modo, aprendi pelo método mais difícil que se as pessoas mexem com algo relacionado ao amor elas automaticamente se machucam.

Em um segundo de ternura eu vi o amor, somente não consegui identificá-lo muito bem. Meu corpo paralisado, meus olhos fixos ao dele, tudo estava tão perfeitamente encaixado que não podia acreditar que era verdade. A minha reação não foi a dos sonhos dele, mas foi a mais sincera que eu poderia demonstrar. Ferumbras tem uma chance, tenho que deixar isso claro, se não, deixarei que o único homem do qual amo, partir. Ele tem muita coragem para expressar isso, admito, somente não estou preparada para responder a altura e então por isso, rebati, após alguns longos minutos de tensão.  - Eu não… Sei. Disse com um tom de voz baixo enquanto minhas mãos apertavam o pescoço dele gentilmente em uma forma de tentar segura-lo.  - Não quero perder você, mas… Não consigo falar. Eu ouvi, me calei, me ajoelhei a sua frente. Não consegui repetir.  Ali estava eu, linda, sorrindo, agora acariciando o rosto dele tentando transmitir uma confiança do qual minhas palavras se negaram a fazer.

A vida não é um filme em que você muda o roteiro e se adapta a tudo para no final ficar perfeito, uma escolha errada e você morre, duas escolhas erradas e você acaba se tornando alguém amargurado e sem amor. Um silêncio significativo se torna muito mais potente do que palavras solta ao vento, não fui capaz de dizer ‘eu te amo’, mas também não corri, chorando pelos cantos por ter ouvido a melhor e pior palavra do mundo, eu o amo, mas seria perigoso demais falar a verdade, deixa-lo de lado o pouparia de sofrer por alguém como eu, não me importo em morrer, não me importo em deixar marcas pela minha pele. Prefiro três vezes mais sofrer fisicamente do que sentir algo ruim dentro de mim, amor não dá para retirar do corpo e chicoteá-lo para simplificar a dor, a minha pele expressa muito mais do que um órgão; é a minha casca de sofrimento. Quando a gente ama, as coisas ficam mais fáceis de se lidar, eu atravessaria oceanos e tempestades por ele, comeria sushi por mais que preferisse comer carne seca, usaria um salto 14 durante horas, mudo o meu cabelo e o papo, aprenderia a dançar só para me encaixar na vida dele. Eu só quero, só preciso, sentir o seu toque… Então por isso;  por sua causa acho difícil confiar, mas só em mim, depositarei uma confiança enorme nas costas dele, esperando que por um bom tempo, por mais que não seja eterno prefiro que tenha amor. - Olha… Novamente um silêncio se propôs a ficar entre nós, um selinho rápido nos lábios do rapaz seguido de uma simples mordida nos lábios inferiores dele.  - Deixa eu ser seu anjo? Prometo cuidar de você. Disse sorrindo, enquanto meus dedos gentilmente passavam na pele da face dele. - Jamais, em pelo menos três anos… Imaginei que encontraria e seria de alguém… Parabéns. Notifiquei ele, enquanto minhas lágrimas caíram, isso se tornará o máximo que minha boca poderia dizer. - Okay, não vou mais chorar, nunca mais. Prometi sorrindo por mais que no meu interior estava destruída. Respirei profundamente e percebendo que meu pulso estava melhor, decidi apenas utilizar a minha magia para que uma certa quantidade de lã se entrelace no meu pulso fazendo-o ficar bem mais relaxado e confortável, não havia mais necessidade de usar o pano, por isso, foi jogado no chão, da cor original ficou um vermelho forte.  - Obrigada, Pudim. Falei, já inventando um apelido super carinhoso, pois amo essa sobremesa.

- Eu serei somente sua, okay ? Minhas bochechas ficaram rosadas de uma forma estranha, meu olhar decaiu e eu não consegui olhar nos olhos dele enquanto a sua resposta era preparada, a cada fala do outro o meu corpo correspondia em um sentimento único. Este sentimento chamado de amor, sei que tentei fugir dele, mas me vejo presa em você. Um dia Ferumbras irá saber que eu apenas o amo pelo simples fato de que ele me ama.

- Obrigada, Fer.  Enquanto a carruagem de pessoas passavam devagar, perto dali, eu estava contente por ninguém prestar muita atenção em nós. Apenas me levantei e arrumei a minha vestimenta, abaixei novamente e saltei sobre o Ferumbras, fiz tanta força que o fiz dar uma pequena queda no mato atrás. - Desculpa, doeu? Perguntei um pouco risonha e em seguida desferi em seus lábios um beijo intenso e gentil, do qual deixou o meu corpo muito mais quente, deslizei a mão pelo rosto dele e suspirei no final. - Você me deixa inquieta (Para não usar outra palavra) sabia?. Demonstei um sorriso enorme e lhe dei um abraço super apertado, olhei em seus olhos e passei o meu dedo nos seus lábios e não resisti, puxei um pouco eles, brincando com os mesmos. -  Toda vez que olho para a sua boca me dá vontade de beija-la.  Falei em um tom sério, revirei os olhos e me afastei dele. - Agora vamos indo, okay?   Ergueu a mão na direção dele e um pouco curvada susurrou. Apesar do seu pulso ainda doer, um pouco, não demonstrei essa dor para ele.  - Hoje você pode dormir no meu quarto, mas escondido, meu pai não pode saber. Riu e segurou firmemente a sua mão, se retirando do local, o levando.