[Entrada] A lamina na escuridão & A máquina de assassinato

O que um dia fora caos se tornara quietude, o que fora a maldade em sua forma mais pura convertera-se em uma saída para seus problemas, as paredes vivas da prisão de carne que o continha por ele transformaram-se em partes da armadura que fora destinado a trajar, quase como em um processo perfeito de simbiose, os deuses acreditaram terem o punido com tal castigo mas o motivo de sua existência, o "bicho homem", lhe ensinara o significado da palavra perseverança - se a vida lhe der um limão faça uma limonada, ou caso lhe de uma reencarnação com potencial, transforme-a na arma perfeita. De fato não existia do que reclamar quando sua própria limitação beirava as margens do agradável a ti, afinal o que melhor para um ser sem forma do que um corpo sem propósito? Era tudo muito conveniente, conveniente até demais. -Alguém vos espreita das sombras... - Ecoara por sua mente o aviso da consciência demoníaca, o chamado assexuado de múltiplas fontes tutelava-o como um tipo de voz da razão, mesmo quando essa já deixara de existir a muito tempo.

Teus olhos de coloração rubra como a lua de sangue da madrugada eterna do Tártaro, perambulavam reluzentes através dos dois únicos orifícios de sua mascara na procura do indivíduo que espiava no abrigo visual de uma de suas crias, inútil, como buscar fugir de um jaguar subindo em uma árvore. -Você não teme a escuridão? Deveria temer. - Provocava a tal figura feminina de súbita aparição, sua origem era tão desconhecida quanto teu nome ou propósito, certezas não existiam perante aquele ato e sua aversão a estranhos tornara-se o atual empecilho mediante uma aproximação precoce de ambas as partes.

O que tinha poucas chances de se tornar um encontro mais elaborado ganhara uma pitada de peculiaridade, como se a oratória entre uma maquina do homem e uma criatura da escuridão já não fosse o bastante. -Entendo... Talvez ainda não tenha encontrado o mal certo... - Os punhos envoltos pelas luvas de couro cerravam-se lentamente em contraste ao som do tecido, um sinal compreensível de ameaça, como o chocalho agitado de uma cascavel insatisfeita com a aproximação repentina em meio ao desconhecido. Uma breve e fraca faísca era mais que o necessário para a explosão de um embate, motivos não eram necessários quando o próprio ameaçador beirava os limites da insanidade e sociopatia, qualquer olhar mais demorado o convinha. -Mas acho que posso me encarregar disso. - Um avanço era certo quando uma terceira voz libertara-se das cordas vocais de sua percursora, uma segunda mulher que tão poucos escrúpulos parecia deter em comparação a dupla. -Esse maldito lugar não deveria ser inóspito? - Pensava consigo em referencia aos boatos que escutara daquela região, seus ouvidos eram inundados por dizeres fantasmagóricos repetitivos de imediato ao aparecimento da nova figura - "Ela poderá nos ajudar, ela poderá" ecoava em uma sinfonia incessável.

Procurar por algo que jamais tivera visto parecia mais a convicção de um louco do que um real propósito, as vozes em sua mente eram mais como sussurros, discretos, inaudíveis caso o caos da alma alcançasse seu ápice, e mesmo assim jamais as ignorara, agora então que esse tal chamado mais se assemelhava a uma multidão eufórica seria ainda mais improvável não ceder a seus devaneios de corrupção. -Quem é você? - Indagava caminhando de encontro a mulher de madeixas negras e a mobília curiosamente mal posicionada, a poeira levantada de seus passos simbolizavam o caminhar arrastado e desconfiado, "ele" como parte de si era digno de confiança, mas os humanos não.

Um assovio próximo aos ouvidos tapava por uma fração de segundos sua audição, uma peça diante de seus olhos era pregada mediante um simplório piscar de olhos, o vacilo inevitável que se submetera. -*Tsk*... - O sonoro resmungo representava bem sua surpresa, afronta respondida com uma afronta ainda maior? Quem aquela mulher julgava ser? Não fazia ideia, mas novamente as vozes de sua cabeça e "ele" não se enganavam, talvez fosse essa a solução de seus problemas. -Poder, conhecimento, novas armas... Procuro pelo mesmo clichê de sempre, me disseram que posso encontrar tudo isso por aqui, mas esse lugar mais me parece uma perca de tempo. E então, estou certo em relação a esse fim de mundo..? Sua fala era lenta e desnecessariamente pausada, incriminadora se não fosse tão desconhecido quanto a dupla que o cercava, de seus pés a própria sombra que a ti pertencia se esgueirava como uma assombração terrena posicionando-se ainda no solo entre o mercenário e a dama de mistérios incompreensíveis, um riso abafado por parte de seu emissor e uma figura idêntica ao próprio visitante encurralado surgiria afim de afastar ambos os corpos outrora tão próximos. -...Mas antes de responder me de um pouco de espaço, não interprete isso como grosseria, só não me é conveniente te-lá respirando no meu cangote. - Humorizaria mais relaxado se uma distância em relação a dama fosse estabelecida.

Aquele não parecia ser um embate para o seu bico, as coisas aconteciam de maneira rápida quase que imperceptível para o demônio, nem mesmo mais cento e cinquenta anos de treinos seriam o bastante para prepará-lo pra aquilo, ele tinha noção disso e ainda que a sensatez por deveras vezes passava longe de si, dessa vez não lhe parecia prudente ignorar o estatuto do bom mercenário. -Fazer parte de sua corja não me atrairia por um simples convite, mas tenho que admitir que você já ocupa um posto alto dos seres mais detestáveis que conheci, isso com poucos minutos de convívio. - Ele comentava trazendo de volta a si com um simples estalar de dedos, a sombra que a pouco se desprendera, uma leve ajeitada na mascara que cobria sua face propositalmente revelando essa por poucos segundos, e voltava a dialogar concluindo. -Farei parte dessa guilda enquanto me for conveniente, é melhor do que se juntar com os patetas adoradores da tradição, *puff*, tradição é o cadáver da sabedoria. Aquietava-se cruzando os braços enquanto esperava por um norteamento ou coisa do tipo.

No final das contas as coisas rumavam a um dos destinos mais improváveis, isso se fosse guiado apenas por tua vontade mundana, as vozes em sua mente e "ele" sempre sabiam o que era melhor para ti, e mesmo que ambas as pessoas ali o desagradassem continuaria a seguir suas ordens e chamados sem questionar, afinal assim tivera sido durante os longos 150 anos de vida que tinha. -Marca não é... Na palma da mão. - Solicitava sem muito mais comentar.