[TREINOS] I feel

Ciente de um estranho local em que alguns assassinatos teriam ocorrido, envolto em lendas assombrosas, a jovem bestial atraía-se quase de forma instintiva de visitar o recinto. O silêncio ali era característico e o cheiro de sangue apodrecido chegava às narinas de Akunaki Chinokawaki.

Sentia-se de fato empolgada, sem vento que balance seus cabelos ou pêlos, com suas caldas envoltas umas às outras para um menor acúmulo de volume, queria ver se alguém estava ali para que caçasse mais uma presa e continuasse ganhando força. Não acreditava em espíritos vagantes que fizessem mal, alguém deveria estar por detrás da lenda.

Um som repentino chamava sua atenção, como se algo caísse ao chão, provável que era plástico e vinha de sua esquerda ao fundo do local. Suas pernas ágeis logo se lançaram de forma veloz, desviando de escombros e caminhando pelas paredes as curvas para não perder o pique de sua velocidade.

No cômodo um novo som, mais próximo e no cômodo vizinho era seu novo alvo de movimentação, deslizando através da porta e procurando o vislumbre de quem buscava, decepcionando-se ao notar um guaxinim arteiro como alvo de suas garras lançadas dilacerando o animal. A sensação não era ruim, porém, era um pouco vazia para o que esperava revirando seus olhos, por vezes lendas são só o imaginário de alguém, seguiria em busca de alvos maiores e novas aventuras que lhe ajudassem a tornar-se mais poderosa.

Seguia correndo para fora assim como entrara a toda, aproveitando toda agilidade de suas pernas e raça, afinal, quanto menos tempo tardasse mais provável era seu encontro com uma nova direção de alguém cujas entranhas sejam mais interessantes apreciar.

Um novo boato a montanha surgia, de que alguns assassinatos estranhos estava sendo praticados. Não discordava dos ideais impostos pela pessoa em questão, porém, já havia determinado o local como um local de caça que esta adotaria, seja pelo terreno ou a dificuldade de ser pega praticando isto ali.

Passos rápidos sobre a montanha cobrindo-a de forma ágil, em busca daqueles que causaram as lendas chamativas, sem saber que estaria a procura de algo bem maior a jovem raposa. De forma rápida, alcançaria uma mulher de cabelos brancos vendo-a apenas de longe, com seus olhos iluminados pelos primeiros momentos da noite. Um assassinato limpo, não havia qualquer sinal de luta, apenas a mesma e um corpo estirado acompanhadas por meus olhos curiosos.

O pensamento de aproximar-me parecia vacilar, incerta de qualquer tipo de aproximação, uma sensação parecida com a que senti com a bestial que levantava meu temor outrora. Isto apenas intensificava-se quando a mesma inclinava sua face em minha direção, como se por alguns momentos notasse minha presença, isto também servia para eu ver uma marca sobre si antes de por instintos sair do local em disparada, correndo a toda velocidade de minha raça.

Coisas interessantes escondiam-se em meio aquela montanha, um novo desafio e isto também à instigava novamente a buscar minha crescida e novos alvos que eu desejaria derrotar, sorrindo enquanto corria e aparentemente não perseguida deixando escapar entre meus lábios com certa euforia.

- Tantas pessoas fortes precisando encontrar que as mate...

Saltando ao topo de uma árvore e deliciando-se com o banho do luar fitando o horizonte como uma caçadora descobrindo uma nova sede de sangue, afinal, o que seria aquela marca que ela ostentava consigo? Era uma guilda? Talvez, ali eu encontrasse o que procurava.

O encontro de outro dia agora dá uma nova motivação para a bestial de sangue quente, não sendo de seu perfil treinos comuns e praticar apenas para aprimorar-se, abre uma exceção pela empolgação da experiência anterior e espera também a chance de revê-la e trazer a ela uma morte digna de alguém tão poderosa, lenta e angustiante, além de é claro, somente após algum jogo de gato e rata, ou melhor, raposa e rata para com esta.

Aos pés da montanha, evitando subidas desnecessariamente arriscadas, visto a chance de um encontro pré-maturo com a mulher de cabelos alvos, inicia uma corrida veloz que requer toda a capacidade móvel de sua espécie, sendo este seu marco como um todo. As pequenas raposas cinzentas, mesmo contra seu tamanho alcançam velocidades absurdas e assim também a sua descendente direta, Akunaki, que tornava-se cada vez mais ágil, cada vez, mais rápida.

A rota era a circunferência da montanha sombria, embalando-se sobre cantos de pássaros e grilos e estranhos sons que pareciam passos invadindo a noite, a visão da mesma não era de todo ruim no cenário, apesar de não herdar este traço consigo da sua raça mãe. O fôlego mesmo para si faltava por vezes, sentindo o vento balançando seus pelos, orelhas e caudas todas unidas em uma só para melhor aerodinâmica.

Logo se daria por entendiada, correr sem presas era sem gosto e sal, porém, ainda assim seria o suficiente para que ao menos fosse sentido algum progresso pela jovem de cabelos lilases e olhos cheios, pela vida dos outros.

Sombras como vultos entre as folhagens, semelhante a um sonho distante, correndo, como nunca correra e tornando-se cada vez mais veloz. Akunaki pouco se lembra de coisas de seu passado e nada existe em suas lembranças que antecede o dia em que acordara na guerra, aquele dia, seus passos velozes sem rumo traziam consigo um gosto amargo e inquietude após pensar nisso alguns momentos tênues que é possível que os prefira ignorar.

Os fios esvoaçantes de seus pelos, de seu cabelo lilás de cor estranha, suas caudas sentindo o atrito do vento forte em si diferente do que normalmente faz quando corre, com todas suas nove caudas bem abertas e não entrelaçadas para uma melhor aerodinâmica. Acabavam por servir de uma força a mais para seu treino implícito ao ato de tentar esfriar sua cabeça e relaxar seus ânimos, limpar qualquer pensamento de sua mente que não seja de seu agrado como aqueles de suas memórias.

Não era de relevância o que viera antes, era possível que não existisse um antes para aquele evento, ela sabia disso, entendia em cada passo veloz o que já lhe era certeza de outros dias, os passos dados não voltam, o que importa é sempre o próximo passo e aproveitar este o quanto puder, afinal, cada passo pode ser o último e o dever daqueles que continuam correndo, é dar cada passo mais rápido e melhor não dando lugar para incertezas que lhe façam tropeçar.

- Não há passado em mim senão aqueles que tomo dos que o possuem, estou bem com isso, na verdade, é melhor assim. A sensação da vida deles em mim é um presente que não dou-me ao luxo de recusar.

A garota refletia em saltos de galho em galho até pousar em uma alta árvore, que lhe deixava parelha com a lua e sua luz, fitando-a e tendo-a refletida em seus olhos.

De volta ao lar de sua guilda, respirando aliviada, já havia treinado e sentido o prazer de sua caça, dentre estes dois eventos porém, podia sentir algo que ambos apresentaram em comum. Seus golpes apesar de rápidos estavam muito leves, causavam um dano quase desconsiderável, desprezível, se não fossem letais com objetos que auxiliam ou com minhas garras, isto não podia permanecer desta forma.

Ao fundo do local onde a guilda se reunia junto a uma árvore, com a palma de minha mão aberta com golpes de pressão e não de punhos, sendo os primeiros os que mais combinam comigo. Estes de maneira ágil tocando a árvore colocando a pressão possível em seu tronco, o que não era muita coisa dada minha força atual.

Não pararia entretanto pela frustração de mal causar dano ao tronco daquela que fazia alvo para Akunaki, a garota prosseguia persistente, descobrindo até que sentir a dor em seus punhos tinha também seu charme e prazer e qual era o cheiro e gosto próprio sangue, correndo a língua sobre este com um sorriso que carregava consigo certa perversão e prazer.

- Interessante…

Contra o ar empolgando-se um pouco usaria de mais alguns golpes apenas finalizando sua prática, sorrindo e deixando seu corpo tombar na direção que caminharia, deslizando suas caudas sobre o solo para um novo equilíbrio e partindo rumo a sede da guilda. Saltando a partir disso no ar executando, em um arco de giro um chute alto acompanhando um pouso limpo, batendo as mãos em sua cauda para limpá-la.

- O que será que Domino esta fazendo agora...

Não encontraria Domino a garota raposa, e depois da busca e de deixar o garoto que fazia sua entrada para trás, não podia estar mais entediada. Caminharia para fora novamente até a montanha, com suas caladas entrelaçadas que não escondiam sua frustração por ainda estar caminhando sozinha, porém, aquela também podia ser uma boa oportunidade para treinar e aproveitaria para isso. Com um princípio espelhado em uma fala de Adhara enquanto a mesma adentrava, ela havia a chamado de gatinha, então, porque não caçar ratos?

Em um certo bosque por ali, onde conhecia a existência destes logo avistava as criaturas, que na verdade eram coelhos, mas, coelhos, ratos grandes, pouca diferença. Com suas pernas em preparo, sairia em disparada atrás das pequenas criaturas, não em busca de ser sutil ou de uma caça limpa, queria ser vista e ainda assim, ter êxito em sua captura daquelas pequenas bolinhas saborosas de pelo. Afinal, caçar é o que felinos fazem, bom, caninos como de fato era seu caso também.

Falhas incontáveis de pegar as pequenas criaturas, seja por sua agilidade ou por seu tamanho que dificultava as coisas, Chinokawaki não estaria com vida fácil para pegá-los. Um pouco irada e ofegante, não desistia entretanto. Não desistir mostraria seu êxito ao final de tudo, logo estaria ela saltando na direção de uma das pequenas criaturas com a boca para pegá-las e suas garras aparando a fuga, como uma verdadeira gata, sentindo o gosto do sangue e deslizando pelo solo com o impulso. O único porém era o sabor que era vazio, não tinha a sensação de degustar a alma de sua adversária, apenas soltava a lebre e partia, ao menos, tendo sido algo para seu treino.

Novamente a jovem raposa estaria treinando seus golpes com as palmas de suas mãos abertas e suas garras contra uma das árvores daquela montanha, a cada soar guiando um impacto, a cada dilacerar uma lasca da madeira na árvore que solta-se. Não seria à toa este seu novo foco para com treino de sua capacidade de causar dano, em verdade e de fato, notava sua carência explosiva como a assassina que precisava ser. Não conseguiria brincar com todos seus alvos, muitos destes exigiam uma capacidade mais ágil e explosiva de matar.

Sentia o peso de seus ataques buscando mais força nestes do que os toques sutis que antes daria, ao menos, em relação a eles. Não perderia a graça de sua forma e a precisão de seus golpes, apenas afiar suas garras para responderem bem aos seus anseios como esta desejava. A garota raposa seria uma predadora, e uma predadora precisa do necessário para abater suas presas.

- Seiva não é… exatamente sangue, mas, ainda é mais divertida que aquela ser sem vida.

Recordava-se da anjo que enfrentou outrora com certo desgosto, por fim e enfim, fora uma luta frustrante para aquela que deleita-se no sofrimento de outrem, apesar de apreciar a companhia de treino do garoto ruivo que estava por detrás. Acertá-lo poderia ter sido interessante afinal. Todas as coisas tinham seus lados.

A árvore desgaste a desgaste, cedia até que por fim o som dos gritos mistura-se ao impacto da queda daquela árvore que fora desgastada parte a parte em seu centro, como se fosse atingida por um machado golpe a golpe até que parte o suficiente de si fora consumida para que seu peso a derrube.

Treinos, treinos, treinos, a rotina da raposa manhosa e sedenta tinha alinhado-se bastante após sua entrada na guilda, os dias em vão que passava tornaram-se treinos e a busca por poder que antes era margem de suas caças e não o objetivo, tudo em nome de, posteriormente conseguir caçar quem de fato lhe importava, aquelas que para aquele momento apresentam-se muito mais poderosas que a si própria.

Novamente usando uma árvore como foco, com golpes dilacerantes de suas garras objetivando atravessar o tronco da estrutura de um lado a outro de forma enérgica. Tinha um certo sorriso na face, não por acaso, descobria que extinguir aquela vida também tinha de certo modo seu interesse, acoplado aos gritos e sussurros que o vento trazia consigo naquela montanha, transparecendo um sofrimento real que era o que Akunaki almejava.

O som dos golpes, diferente da maioria em seu ataque, ou, da própria em si, quando usando de sua soul Haruno para o combate. Tem sempre sons mais sutis, esguios como as lâminas que formam-se nestas garras e cortam, arrancam aos poucos lascas e lascas daquela estrutura de marrons e verdes.

Seu progresso logo seria sentido, em relação a outra manhã de treino, seus cortes eram mais profundos e mais potentes, mais rápido corrompia a integridade da estrutura ainda que tivera escolhido uma mais grossa que a de antes, derrubando-a logo ao chão com a marca de seu êxito e ponto para descanso como fora anteriormente, estaria satisfeita a garota raposa. Um simples toque de declínio era o que impulsionava e logo estaria caminhando em retorno a guilda, satisfeita por seu êxito.

Diferente dos demais treinos, aquele seria um tanto incomum, ao menos, para a garota raposa que normalmente usava de seus atributos corporais para suas lutas. Isso tinha exceção entretanto quando a mesma estaria na forma de Kistune, seria justamente nesta, que, mesma estaria executando sua estratégia de treino. Começaria logo transformando-se nesta, sentindo a energia de sua alma lhe correr, o pêlo tornando-se branco e uma voz sensual, o ar mais doce, estava feito.

A garota erguia sua mão em chamas criando uma esfera que circundaria acima de sua palma, a coloração de sua chama tão característica em tom azul, sem que mude os efeitos mas tornando mais evidente o charme de seu caráter, em uma guia sutil, quase dança, envolvendo-se e girando a estrutura fluida de chamas em torno de si. Exercitando seu próprio controle de sua magia.

A enviaria para a frente em certa velocidade realizando uma certa pausa com a chama de fogo afastada, sua rota seria sutilmente desviada enquanto em um salto a raposa deixaria seu corpo cair em um giro pelo chão, sem perder o controle de sua efera, jogando-a para o lado e depois para o outro mantendo sua mão responsável por este ato, sempre concentrada. Ao fim do ato ergueria esta mão trazendo novamente a esfera junto a si, ostentando-a sobre sua mão, um misto entre as campeãs para a técnica, Ahrana.

Saindo de sua transformação, a paz de sua própria forma e sede, ao lugar do fogo de seu âmago o agraciar do desejo pela morte. Retornaria a guilda para a continuação de seu trabalho.

Meus passos novamente me levam às cidades onde minha fama havia se formado, não na mesma cidade e nem como o mesmo tipo de cultura e povo, um vilarejo qualquer que havia próximo as montanhas da qual fazia parte e morada. Desde Haruno não havia mergulhado minhas mãos em outro sangue, estava entediada de fato e desejava brincar nem que fosse um pouco.

Uma viela do local, entre muros relativamente altos para agrupados como aqueles, o suficiente para que cobrisse minha visão de um lado e outro no caminho estreito, um sol que caminha entre o vermelho e o laranja no horizonte, tocando minha pele alva e meus fios lilases enquanto tomo o ar fétido do fundo rejeitado de um local já rejeitado pelo mundo.

Os primeiros passos que não os meus logo são ouvidos por mim, um homem se aproximando de sua meia idade, um pouco embriagado, um pouco sobre efeito de estimulantes artificiais, cocaína talvez, poderia ser a causa da vermelhidão em seus olhos quando aproximava-se de mim com seu bafo nojento e suor velho em sua pele.

- O que você é? Se me olhar assim vou achar que está querendo.

- E o que eu poderia não querer?

- Hahaha deixa eu te mostrar…

Por vezes eu penso em meios aos ocorridos, a vida é tão tola e findá-la pode ser tão tediosos quando o alvo não vale a pena, um toque em seu pescoço enquanto o mesmo distraía-se tirando parte de suas vestes, vertia o sangue entre minhas garras adentrando sua pele e fazendo-lhe grunhir de dor e surpresa.

- Parece querer dizer algo amorzinho, o que mesmo que você vai me mostrar?

Engasgando em seu próprio sangue livra-se de minhas mãos caindo ao solo, ali, no local onde não veriam, mas, eu estaria a exercitar minha força, se a sua vida em si era um vazio tedioso mesmo na morte, arrancar seus membros um a um era uma diversão a parte. Sentir a resistência dos músculos, rasgando, a dureza dos ossos se partindo.

- Não é que você tinha algo para mostrar?